quarta-feira, 11 de maio de 2011

" Ao espelho "


Por que persistes, incessante espelho?
Por que repetes, misterioso irmão,
O menor movimento da minha mão?
Por que na sombra o súbito reflexo?
És o outro eu sobre qual fala o grego
E desde sempre espreitas. Na brunidura
Da água incerta ou do cristal que dura
Me buscas e é inútil estar cego.
O fato de não te ver e saber-te
Te agrega horror, coisa de magia que ousas
Multiplicar a cifra dessas coisas
Que somos e que abarcam nossa sorte.
Quando eu estiver morto, copiarás outro
E depois outro, e outro, e outro, e outro...


Jorge Luis Borges

Nenhum comentário:

Postar um comentário